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3 de mai. de 2014

Entre erros e acertos, “Divergente” reflete a geração da qual faz parte


Se um filme reflete seu tempo, os fenômenos cinematográficos recentes, por mais relativos que sejam, ajudam muito a compreender as gerações que lhe são contemporâneas. Depois da febre literária de sobrenaturais, com especial destaque para vampiros, agora vem a leva dos futuros distópicos que em muito reflete a sina “revolucionária” da puberdade, e consequente adesão desse público. Divergente” é um retrato disso. Tanto como livro (discurso) quanto como cinema (narrativa).
Baseado no primeiro livro da trilogia de Veronica Roth, e com direção de Neil Burger (do burocrático “O Ilusionista”), a ação se passa numa Chicago futurista onde a sociedade está dividida em cinco facções, baseadas na personalidade de seus indivíduos. Beatrice Prior (Shailene Woodley), embora nascida na Abnegação, nunca se sentiu pertencente ao lugar. Depois de passar por um teste que deve indicar a que facção ela pertence, o resultado se mostra inconclusivo, o que indica que Beatrice é uma “divergente”: não sendo encaixada numa só categoria, logo, não podendo ser controlada. No entanto, ela opta por se juntar à facção da Audácia, onde assume o nome de Tris e passa por um intenso treinamento com os outros recém-chegados, aos olhos do instrutor Quatro (Theo James). Ali, ela precisa manter sua condição de divergente em segredo, uma vez que isso representa uma ameaça ao sistema (e com Kate Winslet como uma revigorada vilã em seu encalço).

A história é montada dentro de categorizações que, embora não prime pela sutileza na pretensão de suas metáforas (!), funcione estruturalmente na narrativa que defende. Não dá para subestimar seus efeitos práticos. Mesmo com sua excessiva duração, sua construção dramática é eficiente e as voltas do roteiro convencem. O juízo de valor que se faz do resultado como discurso é mesmo questionável. Há primário excesso de pragmatismo social. A justificativa das “castas” quase é sua própria representação. Mas aí lembramos que “a obra reflete seu próprio tempo”, e talvez a geração que alimenta esse tipo de repercussão espelha essa auto caricatura. O filme acaba sendo hábil em espetacularizar esse retrato. Mais hábil ainda em deixar para o talento vigoroso e ascendente de Shailene Woodley a personalização do desbravamento de uma juventude em crise de identidade. Quando ela entra em cena, não há discurso equivocado que resista a sua sina de se representar dentro de inconsistentes representações. Vale conferir.


Fonte : Ambrosia Cinema

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